sexta-feira, 9 de novembro de 2012

PROCESSO SELETIVO


Em homenagem à Lady Gaga, ouvindo isto (tem que dar o play)

Ontem chegava ao trabalho quando recebi o whatsapp de uma querida pedindo pra tomarmos um cafezinho rápido antes de irmos para o tronco. Achei que fosse algo sério, no fundo o que era para ser sério virou gargalhadas com gente que eu nunca vi na vida sentada conosco compartilhando suas estórias e rindo também. O assunto? A querida em questão tinha ido naquele dia fazer uma dinâmica de grupo, processo seletivo, estas coisas. E ela estava triste (mas saiu sorrindo, iêi) porque não sabia que as pessoas estavam se matando por uma vaga e mais, ela se sentiu burra, já que segundo ela o piorzinho lá, fora ela, era alguém que fez Harvard e tem mais 4032 certificações, é fluente em chinês, não tem bafo e sabe todas as respostas para todas as perguntas. Quando ela começou a falar, me lembrei de uma estória que ocorreu comigo lá pelos idos dos 199X...

Eu morava no interiorrrr. Fui chamada para uma destas dinâmicas. Peguei o busão à meia-noite, cheguei em São Paulo 06AM (sim, viajei a noite toda já com a roupa que usaria durante o dia), escovei os dentes e dei um tapa no visú na própria rodoviária Barra Funda e de lá fui de metrô para o "evento". Voltaria no busão das 18h, para chegar em casa meia-noite.

Pois bem, chegando lá, dois grupos de 10 foram formados. Lembre-se que falo de uma época em que a Internet não morava em cada esquina e não existia celular. Já na primeira atividade percebi que a coisa não vingaria. Eu não conseguia falar, não por falta de iniciativa, mas porque o pessoal lá estava tão desesperado-socorro-me-ajude por mostrar conhecimento ou, sei lá, proatividade que era eu abrir a boca para falar algo e outros já falavam em cima. Todos queriam mostrar serviço. Eu, que nunca tinha visto um negócio daqueles, usava a educação aprendida em casa: um fala, outro fecha a boca. E como eles pareciam desesperadoramente mais necessitados de falar do que eu, sei lá, brochei na hora e fiquei quieta.

Meu grupo tinha que vender revistas pornôs para um mosteiro (representado pelo outro grupo). O outro grupo tinha que vender máquinas de gelo para nós, que seríamos esquimós vivendo em iglus. Teríamos duas horas para montar os planos de negócios, definir estratégias, etc. Os "líderes" do meu grupo (coloquei aspas porque para mim é alguém escolhido, não auto-imposto) falavam, apontavam, salivavam. Me sentia em uma peça de teatro mal feita. Eu não entendia do que eles falavam: fiz faculdade de Computação. Pedi pra moça que cuidava do negócio se eu poderia ir embora e expliquei minha estória de Gata Borralheira que vem do interior tentar a sorte na cidade grande. Ela disse que eu não poderia desfalcar meu grupo.

Enquanto eles se matavam, literalmente, para mostrar quem era o melhor ali, eu, em protesto, peguei uma lixa de unha! SIM, EU COMECEI A LIXAR AS UNHAS NA SALA! A fia que disse que eu não poderia ir embora disse que eu "não estava participando" e eu, com pena, repeti que não sabia do qeu eles falavam e que queria ir embora, que abria mão da vaga. No final, que vocês já devem estar cansados, os grupos tinham que tentar vender então seus produtos (e eu lá lixando a unha). Começaram a levantar a voz, os "líderes" de ambos os lados querendo impor suas ideias, outros como eu lá do outro lado (mas que ao menos entendiam do que se tratava a coisa) tentavam se manifestar, mas já eram logo cortados. Só sei que a coisa foi crescendo em volume e um moço do meu grupo deu então um tapa na mesa e GRITOU: "PARA! MUITA DESORGANIZAÇÃO! PRECISAMOS NOS ORGANIZAR E PARTIR PARA O ATAQUE!"

Neste exato momento me levantei, peguei minha bolsa e gritei disse: JESUS MARIA JOSÉ, QUE FALTA DE EDUCAÇÃO! Indo em direção à porta continuei: eu não quero trabalhar num ambiente destes, com pessoas assim! Faz horas que já pedi para ir embora, que não entendia nada do que ocorria aqui e que era um peso morto. Vocês devem precisar disto mais que eu, porque estão se matando por algo que, honestamente, vi que não serve para mim! Estou indo embora, porque vocês vão para suas casas e eu ainda tenho que pegar um busão por 6 horas sem poder tomar banho!

Ah sim, ao chegar à porta ela não abria. Comecei a bater com a mão espalmada dizendo: ABRE A PORTA! ABRE A PORTA! EU QUERO IR EMBORA! ME MANTER AQUI É CÁRCERE PRIVADO (chutei né? Sei lá, queria distância daquele povo).

Fui para casa, continuei a vida. Uns dias depois recebo um telefonema lá no interiorrr dizendo que, daquele grupo, eu tinha sido a única aprovada...

Desculpa, escrevi demais... Mas foi isto que me fez rir ontem com a G. E outras pessoas foram chegando perto e começaram a contar as bizarrices que já viram nestes processos. No final, sei lá se conta você ter feito super faculdades, ser super tituladas e ter super cursos. No meu caso, se a fia que me ligou não mentiu (porque não sei né?), os ultra-phodões não passaram.

Então G., não se sinta burra ou desqualificada. Muita gente exagera ao vender seu peixe. E, podem dizer o que quiser, para mim tem muita empresa que acaba contratando gato por lebre. Ou pior, lobos em pele de cordeiro...

Beijos em todos e um ótimo final de semana

PS - o the End foi: não aceitei a vaga e ainda disse "obrigada, mas realmente não é o tipo de empresa em que eu queira trabalhar..."

5 comentários:

  1. Excelente, é bem por aí mesmo...quando transferi a faculdade de Ribeirão (onde havia um ambiente harmônico), pra SP (onde a guerra era declarada), tive a mesma sensação. Em um processo na AMBEV, empresa conhecida por fazer as pessoas vestirem a camisa da empresa como tatuagem, o cara tava surtando que tínhamos que IDOLATRAR a empresa, fiquei tão chocada que só consegui dizer "Olha, desculpe, mas nem de guaraná eu gosto!" kkkkkkkkkk tô fora! Empresas tem que valorizar a naturalidade e diversidade de perfis...adorei sua história! Beijooooo

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  2. E o pior é que tem gente que faz MESMO questão de se sobressair a qualquer custo, mesmo que tenha que passar por cima dos outros. No meu atual estágio, inclusive, tem certas pessoas que me deixam estarrecida... Coisa de fazer comentários maldosos gratuitamente, deixar o colega numa situação "pepinosa" com o chefe, dar aquelas puxadinhas de tapete bem discretas, mas que deixam o outro mal? E, ao mesmo tempo, ficar usando artifícios pra aparecer como funcionário exemplar. Chego a ter nojo de gente assim...

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    1. Lu, nao é bizarro isto? Eu ouvi cada estoria que olha, cada um dava um post. Um moço disse que trancaram uma concorrente no banheiro e ainda disseram "um concorrente a menos"... Gente, o que é isto?

      beijos paulistas

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  3. Uma verdadeira crônica da vida real bem escrita pela experiência e pelo talento! Adorei esse texto!

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